Ouguela (Alentejo, Portugal) em baixo; Alburquerque (Badajoz, Espanha) ao fundo.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

"A minha sala de aula tem janelas abertas para o mundo"



Infelizmente, nem todas as escolas públicas são iguais. Em muitas delas o trabalho dos professores é enorme para poderem ensinar. Onde fica a escola?

Este é um excerto de um artigo de Teresa Loureiro, professora de Educação Física numa freguesia carenciada da capital portuguesa.


A minha sala de aula tem janelas abertas para o mundo! Nas paredes estão pintados os horizontes envolventes, com tonalidades e dimensões tão reais, que nenhum artista plástico conseguirá imitar… Com frequência se recebe a visita de uma ou mais gaivotas que parecem querer interagir e a actividade pára, porque não se consegue resistir a esse quadro. Estas gaivotas entram na minha sala de aula pelas enormes janelas sem grades, vidros, estores, ou persianas. Fazem parte do cenário vivo e envolvente retratado nas paredes da sala de aula. Na minha sala de aula até a cor do tecto varia. Num todo harmonioso e uniforme com as paredes, o tecto reflecte as diversas cores do firmamento, ao longo das estações do ano. De um azul límpido e cristalino, a anunciar um maravilhoso e soalheiro dia de final de Primavera, a um cinza cobalto, carregado e ameaçador, prenúncio de um dia de chuva e quiçá, trovoada. A minha sala de aula tem um pé direito sem medida. A porta está sempre aberta e todos, sem excepção, podem entrar ou sair, a qualquer momento, com toda a liberdade. Não tem computador, nem quadro interactivo. A minha sala de aula prolonga o tempo e o espaço do recreio da minha escola. A minha sala de aula é o espaço de recreio da minha escola!

A minha aula? Um misto de realidade e fantasia, de desenvolvimento do plano elaborado, aditado de muito improviso, criatividade e imaginação. Uma aventura diária e constante, plena de imprevistos mais ou menos previsíveis. Sou professora de Educação Física, numa das freguesias mais jovem, mais populosa e mais carenciada de Lisboa, numa escola dos 2º e 3º ciclos do ensino básico, que abriu as suas portas há quinze anos e que abarca presentemente vinte turmas. Tenho uma sala de aula que é efectivamente o espaço de recreio da escola. Que em todos os intervalos é salutarmente invadida por dezenas de alunos que querem jogar à bola. Por este motivo não me é permitido, por não ser desejável, deixar o material preparado, de aula para aula, podendo rentabilizar o tempo útil de prática. É também com alguma dificuldade que, findo o tempo do intervalo, se consegue que os alunos mais resistentes abandonem o espaço e se dirijam às suas salas de aula, permitindo o início da aula de Educação Física.

Na minha sala de aula, os alunos cospem para o chão…

Na minha sala de aula, depois de cada intervalo, fica lixo no chão…

Na minha sala de aula há um campo que só tem… espaço. Aguarda há algum tempo, ano após ano, a colocação de duas balizas, guardadas na arrecadação e as respectivas linhas de demarcação do espaço de jogo, referenciais tão importantes, para a leccionação. Há outro campo, o maior, imponente no espaço que ocupa no todo da escola, em que as balizas apresentam ruínas de redes, vestígios de redes que já o foram, noutros tempos…

LOUREIRO, Teresa – Licenciada em Educação Física (ISEF – UTL, 1987)


O texto completo aqui.


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