Ouguela (Alentejo, Portugal) em baixo; Alburquerque (Badajoz, Espanha) ao fundo.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Uma anedota



Primeiro, duas definições. De anedota e de asneira.  Reparem que a palavra anedota é grave em português e não esdrúxula.

Diz-nos o dicionário Priberam:

Anedota. “Breve narração de caso verídico pouco conhecido; chiste.”
Asneira. “1. Tolice, disparate. 2. Dito obsceno.”

Desta segunda palavra, temos um sinónimo em palavrão.

Vamos lá com a anedota....

Dois homens estavam a trabalhar em casa de uma velhota, e ela passava a vida a queixar-se ao patrão de que eram muito malcriados e estavam sempre a dizer asneiras. Até que ele lhes pediu para se tentarem controlar.

— Pelo menos à frente da velhota, pá. Coitadinha.
— Está prometido, patrão – assentiram.

Apenas duas horas volvidas, contudo, a senhora telefonou esbaforida a queixar-se deles. De que, ainda por cima, um deles tinha dito uma das piores, mais feias, mais canalhas, mais torpes, mais obscenas asneiras possíveis.

Quando voltaram, o patrão admoestou-os:

— Então? Vocês tinham prometido que não diziam palavrão nenhum, e afinal... Ainda por cima foram logo dizer aquele...

— Mas, patrão – respondeu um. – Nós não dissemos asneira nenhuma, juro que não. A única coisa que aconteceu foi que o Chico estava em cima do escadote a soldar um fio, e a certa altura deixou cair um pingo de solda a ferver mesmo em cima da minha mão. E eu apenas me virei para ele, e disse-lhe, muito suavemente, com toda a calma. «Ó Chico, então foste distraído ao ponto de deixares cair um pingo de solda a ferver em cima da minha mão? Olha que eu não te quero incomodar mas isso provoca uma dor algo intensa e assim um bocado como que a dar para o assaz desagradável»...


Anedota lida no livro A Palavra Mágica e outros contos, do escritor português Rui Zink. No conto que dá título ao livro o autor recorda a primeira asneira que ele disse em miúdo e o quanto custou dizê-la. Zink voltará por aqui com palavras mesmo dele.



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