Ouguela (Alentejo, Portugal) em baixo; Alburquerque (Badajoz, Espanha) ao fundo.

sábado, 11 de dezembro de 2010

"O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia..." (Caeiro - Pessoa)

A caminho da Torre de Belém

Quando anteontem, quinta-feira, na visita que fizemos a Lisboa, íamos a caminho da Torre de Belém, pudemos ler alguns versos pintados no asfalto. O autor era Fernando Pessoa, ou, por melhor dizer, Alberto Caeiro, um dos seus heterónimos, e considerado por ele como o seu Mestre.


O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.

O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.

O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.

Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.

O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.

Alberto Caeiro / Fernando Pessoa


Fotografia de Ivan Goncalvez


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